terça-feira, 21 de abril de 2009

RACIONALIDADES E EMOÇÕES: LUGARES E ESPAÇOS EDUCACIONAIS

Diante dos cenários educacionais vigentes, aonde a violência é fenômeno constatado e fortalecido na sociedade, vale questionar: “Qual é o lugar da emoção na racionalidade? Como a teoria da racionalidade discute a emoção na educação?” Essas questões são necessárias para pensar-fazer na/da educação. Creio que, somente interrogando se pode pensar a relação entre a emoção e a racionalidade, ou seja, fazendo-as presentificadas em ato, ao mesmo tempo em que objeto do pensamento, a emoção e a teoria da racionalidade se efetiva. Trago aqui, meu sentimento de tristeza, indignação e inquietação quanto ao aumento da violência e da não aprendizagem na escola. Quanto a razão, em poucas palavras, elaborei uma síntese textual como exercício da racionalidade. A emoção mobilizando a racionalidade e vice-versa. Eis que começo a escrever e sob muitos cortes, para dar conta e talvez alguma razão, agora compartilho algumas das idéias (sempre em elaboração) para quem se sentir, também indignado com a situação educacional vigente, possa se manifestar. Pois é preciso discutir para compreender o que sustenta a distância entre o teorizado e o praticado na educação para minimizar ou estirpar a violência. Muito já foi teorizado sobre algumas dicotomias/tensões/conflitos sobre esta temática. Aqui, outras considerações são levantadas para nosso espaço de “prática discursiva” blogueria.
Sabemos ser a racionalidade objeto da filosofia, da economia, da psicologia, da sociologia, da robótica e tecnologias, também, o é da educação. É valido perguntarmos como estamos nos apropriando dela. Quais são os diferentes caminhos adotados pela educação para exercitá-la? Alguns usam da psicologia para pensar a educação, outros da sociologia ou outras convergências entre áreas. Acredito na criação de significados para romper com a violência. Criar no sentido de conhecer, compreender, estabelecer idéias, conceitos e sentimentos sobre o outro, a vida e a sociedade . Ao desenvolver a criação na escola estaremos fortalecendo a força criadora das significações, carregados de elementos variados e distintos mas, relacionais, como: conceitos, idéias, valores, imagens, de natureza humanizadora.
Agora questionamos: como cada elemento pode interferir na racionalidade? Pensaremos, hoje, nas duas categorias de emoções propostas por Damásio. As primeiras são denominadas de emoções primárias, como o medo, a ansiedade, a fúria, a raiva, a tristeza, a felicidade e o nojo. As segundas, ditas emoções sociais, são as expressões de simpatia, compaixão, embaraço, vergonha, culpa, orgulho, ciúme, inveja, gratidão, admiração, espanto, indignação e desprezo. Como processos/estados psicológicos, as emoções funcionam na gestão dos fins dos indivíduos e são tipicamente provocadas por julgamentos de acontecimentos cotidianos, podendo deduzir que as emoções “carregam” os pensamentos. Em síntese, a educação reprodutora pode ser por admiração ou raiva/negação do outro ou de si e se favorecer a racionalidade instrumental ou técnica, porque seguir as regras é o mais adequado. Daí professores “obedecerem” as “normas” da escola/sociedade, do silêncio frente a violência.
As mesmas emoções ou de ser simpática ou de desprezo pode gerar outra racionalidade. Agora a prática, sustentada pelo conflito, pensado na ação, mas ainda presa a “educação herdada”.
Por fim, as emoções sejam primárias ou sociais, só são transformadoras quando o ser for apaixonado ou estiver indignado. Isto porque, o seu pensamento se abre para se estruturar e funcionar sob bases problematizadoras, críticas e emancipatórias. Eis a racionalidade critica.
Vale observar que as emoções primárias ou sociais podem delimitar, mas não determinar o pensamento. Ambas podem obter pensamentos de base reprodutivistas ou inovadoras. Isto nos autoriza a dizer que o que leva a educação a ser transformadora, criativa e crítica é o exercício da filosofia educacional, não enquanto disciplina ou teorização, mas atitude dialógica com diferentes áreas do conhecimento e como escolha deliberada e como prática do pensar-sentir a não violência.

4 comentários:

Sergio disse...

Professora, ao criar significados estaríamos sendo redundandes, pois os que estão no nosso cotidiano são suficientes para mudar este quadro de aumento de violência e diminuição da escolaridade. Mas, será que queremos ou estamos usando-os corretamente? Será que queremos resgatá-los para melhorar o coletivo?
O uso das racionalidades intrumental e técnica ajudam a responder.
Queremos permanecer na zona do conforto, em "nossos quadrados", individualistas, serenamente obedecendo às regras e todo dia 05 recebermos nosso salário ou preferimos no expor, debater, discutir, provocar mudanças, dizer que está errado, pôr o dedo na ferida social, indicar soluções, digladiar na arena da vida contra os leões cujos donos estão no poder, sedentos em mantê-lo, ávidos por mais violência.
Nós da educação, entregues às racionalidades intrumental e técnica, até porque nos é imposta por um modelo que privilegia o mercado, estamos cada vez mais longe da emoção, do olhar sobre o outro.
Não há transformação, evolução que não seja pela educação.
E aí entra a racionalidade crítica, as emoções primárias e sociais.
Não devemos esquecer o ser, a pessoa, o indivíduo com suas crenças, seus medos, suas esperanças, suas perspectivas, suas fraquezas...
Porque se ele não quiser, se para ele está muito bom, assim, sem correr riscos, não adiantará muito. E incluo aqui, nós, os professores.
Contudo, a inquietação, o não-conformismo, o desejo de mudar têm que existir. Não podemos nos pertimir o marasmo, o niilismo, a pasmaceira, sob o risco do efeito bumerangue.
É necessária uma nova leitura de si e de mundo. Uma revolução não com armas, mas com ideias, com emoção e com determinação.
E lá vamos nós...

Thera disse...

O número de crianças nas ruas leva-me a um grande questionamento: o que está sendo feito em prol da nossa infância? Quem está sensível à situação que elas enfrentam? Que políticas públicas têm se empenhado efetivamente em transformar esse cenário de miséria, prostituição, crime? Não é com bolsa família que se minimizam os problemas... Vemos todos os dias nos noticiários tantas crianças nas ruas vivendo como verdadeiros zumbis, crianças totalmente entregues às drogas, à marginalidade e à obscuridade.
Causa-nos estranheza, apesar de atualmente falar-se tanto dos vários retratos de infância, não se ater ao quanto tudo isso é alarmante, que a tela vista nas ruas dos grandes centros urbanos é surrealista. Que retrato é esse de infância onde crianças, se é que se pode considerar infância, crianças morando no submundo, prostituindo-se para comprar drogas, praticando furtos para comer, que infância é essa onde meninas de 10 anos ficam grávidas sem nem saber de quem ? Com certeza esse não é o único retrato de infância que temos, mas esse é o que deveria ter um maior foco. É necessário que SE ENTENDA QUE A VIOLÊNCIA NÃO BROTA DO CHÃO. Ela nasce, cresce e reproduz-se. E em meio a tantas correntes filosóficas o que efetivamente se faz? Gestos concretos precisam ser partilhados. Há tempos damos murros em "ponta de faca"; ferimo-nos emocionalmente diante de um cenário que tem se tornado mais feio! Fundamental é que se perceba que educação é investimento; para que o país se desenvolva é importante que o assunto seja tratado com maior responsabilidade. É ficam as perguntas: Quem cuidará das crianças e jovens do nosso país?
Essas crianças que estão sendo educadas, ou não, assumirão papéis na sociedade num futuro próximo. Uns serão médicos, professores, engenheiros, políticos, policiais... Meu Deus! Quanta responsabilidade a nossa! Se não nos engajarmos de fato no compromisso de educar, não poderemos sair às ruas, não poderemos adoecer, não teremos uma velhice saudável, nem assistida. E que outras gerações virão? Que sentimentos serão despertados? Se alguns profissionais que ainda não se conscientizaram para a importância de nos unirmos todos em prol da educação sofreremos todos um grande caos! Muitos alunos, por mais estimulados que sejam por familiares e escola, demonstram ojeriza aos estudos. O que haverá com aqueles que estão entregues ao descaso?

Jeanne Barros Antunes disse...

Quando iniciei a leitura desse texto comecei a questionar onde deveria encontrar os cenários educacionais vigentes, aonde a violência é fenômeno constatado e fortalecido na sociedade, e o que devemos fazer como educadores e responsáveis por esses jovens e o que vale questionar: “Qual é o lugar da emoção na racionalidade? Como a teoria da racionalidade discute a emoção na educação?”
Faz-nos repensar a predominância da racionalidade instrumental e técnica, a vivência com ou sem experiência de nossos colegas docentes. Revela a produção de racionalidades e não acontece apenas de forma unilateral, pois nos deparamos com exemplos de tática em que é preconizado dentro da sociedade, como é o argumento de muitos de nós e o que fazer para mudar esse estigma que transgridem, subvertem essa lógica. Isso só vem confirmar a necessidade e a importância de se reconhecer que, nos espços/tempos escolares, ocorrem produção de saberes, táticas, artimanhas, representações, sentidos, pedagogias e racionalidades para além de um contexto reprodutivista das relações sociais ou da racionalidade técnica que trás beneficio para essa ou aquela sociedade vigente. Essa é uma racionalidade em crise, que tem um conhecimento do mundo sustentado na construção de um mundo insustentável que nos é fornecido dentro dos PCN’S. Será que devemos fingir que isso não nos incomoda ou devemos bradar com toques de inquietude para uma mudança urgente dentro de nossa educação que continua ser baseada no contexto histórico de uma sociedade repressora e calcada em seus desejos. O espírito humano está muito aquém dessa racionalidade devemos defender como educadores a transdisciplinaridade real e não fictícia para um determinado grupo que rege o poder. Não podemos esquecer que somos professores engajados na contribuição da formação do aluno no processo do ensino e aprendizagem e na formação como cidadão consciente dentro dessa sociedade que pune, reprime e exclui.
(Mestranda em Letras e Ciências Humanas - UNIGRANRIO)Jeanne Barros Antunes

cora fortes disse...

O professor preso à teoria/prática se vê perdido e sozinho para resolver tais questões que tanto desespera: a violência e a não aprendizagem de seus alunos. Inquietações” e “indignações” que leva-o para um “beco sem saída”. Está ainda preso a um currículo que deve cumprir com seus alunos e que não trazem respostas e muito menos resultados gratificantes, orientam em quais, como, quando, porque e para que devem ser estudados. Na verdade um currículo que camufla uma lógica excludente quando tem seus conteúdos isolados um dos outros. Isolando também seus alunos. É necessário utilizar outro tipo de racionalidade para a dinâmica de suas aulas, favorecendo uma ambiente de reflexão crítica, que leva ao diálogo. No diálogo se revela visões de mundo, experiências e vivências. A racionalidade sozinha não vai dar conta é preciso temperar com a emoção para atingir possibilidades de conhecimento pessoal e do coletivo. A emoção através da afetividade direcionar a racionalidade levando tanto o professor como os alunos a enxergarem saberes antes desprezados pela escola, orientando-os para o que pode e deve ser trabalhado com as diferenças e semelhanças.